É
sempre oportuno refletir sobre o diálogo entre as crenças e a possibilidade de
ações em comum baseadas em ideais éticos partilhados por numerosas
religiões.
Houve
um tempo em que o Brasil era um país de maioria solidamente católica. Hoje as
religiões adotadas pela população brasileira diversificaram-se grandemente.
Inúmeras crenças cristãs, que não apenas a religião católica, têm amplo número
de adeptos. Religiões africanas e
indígenas, que uma visão equivocada de Cristianismo pretendeu sufocar,
ressurgem como afirmação da dignidade de raças oprimidas. O Judaismo, o Islamismo,
o Budismo, o Taoísmo, o Confucionismo estão presentes no mosaico religioso do
Brasil contemporâneo.
Ouvi
de Dom Luís Gonzaga Fernandes, que foi Bispo no Estado do Espírito Santo, esta
singela colocação: “toda verdade, toda Justiça provém de um único Deus, um Deus
com muitas faces, um Deus com muitos nomes.”
Em período de estudos que passei na França, tive especial interesse pela
questão das religiões em face dos desafios éticos. Li inúmeros autores.
Dialoguei com crentes de diversas confissões. Concluí que as maiores religiões
e sistemas filosóficos da Humanidade afinam, nos seus grandes postulados, com
as ideias centrais que caracterizam um conjunto de princípios que poderíamos
denominar como Ética das Relações Humanas Fundamentais.
Cornelius
Castoriadis observa que as religiões em geral têm uma pretensão universalista,
no sentido de que sua mensagem endereça-se à Humanidade inteira. Não obstante
esse caráter "universalista da religião", acreditamos que um elo de
compreensão pode estabelecer-se através do diálogo e da tolerância.
Os
valores do Bem, da Justiça, da Fraternidade são reverenciados nas mais diversas
tradições religiosas da Humanidade. Não são monopólio do Ocidente ou
propriedade cristã, e muito menos pertencem a um credo particular.
Que
haja comunicação entre as diferentes crenças, entre as pessoas que aderem a
essas crenças. Não se trata da falsa comunicação, totalitária e impositiva. Trata-se
da verdadeira comunicação, baseada no respeito ao outro e na abertura para ouvir.
É a esta comunicação que se refere François Marty. É a comunicação bipolar, que
supõe um elo entre as pessoas que se falam.
Que
haja humildade. Só a humildade permitirá às Igrejas a aceitação da
historicidade de suas formas concretas de existência.
No que
se refere aos católicos, tudo indica que o Papa Francisco ampliará o abraço
fraterno de todos os crentes.
No Brasil, de maneira particular, será
de bom conselho o comportamento tolerante em matéria religiosa. Que cada um
siga sua consciência e respeite a consciência do próximo.
João Baptista Herkenhoff, Juiz de
Direito aposentado (ES), professor e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/ 2197242784380520
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