João
Baptista Herkenhoff
Este
mundo precisa das mais diversas profissões e ofícios, todos credores de
valorização e respeito, desde que desempenhados com honestidade.
Por
este motivo, em nossos artigos temos exaltado múltiplas atividades humanas: o
fotógrafo, o sacerdote e o guia religioso em geral, o psicanalista, o
professor, o jornalista, o escritor, o empregado doméstico, o politico, o
ambientalista, o jardineiro, o ator, o músico, o médico, o jornaleiro, o
bibliotecário, o magistrado, o advogado, o policial.
Se o jardineiro não cuida das flores,
a cidade será insípida e sem alma.
Se os músicos não comparecem no
coreto da praça, a gente sofrida não poderá se despedir da dor “pra ver a banda
passar cantando coisas de amor” (Chico Buarque).
Nesta página desejo homenagear o
carteiro.
Se o carteiro não entrega as cartas,
o avô não receberá o cartão que, de terras distantes, a neta lhe envia.
Não
foi sem motivo que Pablo Neruda atingiu culminâncias em “O Carteiro e o Poeta”.
Numa remota ilha do Mediterrâneo, um carteiro recebe a ajuda do poeta Pablo
Neruda para, através da Poesia, conquistar o amor de Beatrice, a eleita. O
carteiro, que era o mediador da correspondência do Poeta, aprende, aos poucos,
a traduzir em palavras seus sentimentos pela amada. Em troca, Mário, o
carteiro, foi o interlocutor do Poeta, mostrando-se capaz de ouvir suas
lembranças do Chile e compreender as dores do exilado.
Sou
do tempo das cartas por via postal, que carregavam um certo mistério.
Aderi
à internet pela praticidade da comunicação através deste grandioso invento, mas
tenho saudade das cartas de antigamente.
Os
e-mails também podem transmitir sensibilidade, mas as cartas tinham um sabor
especial.
Guardo
todas as cartas que recebi de minha esposa quando éramos namorados.
Como
ela também guardou as que mandei, temos em nosso arquivo todas as cartas que
trocamos.
Reli,
nestas férias, “Cartas do Pai”, escritas por Alceu Amoroso Lima para Maria
Teresa, sua filha freira. Nessa correspondência, Alceu, cujo pseudônimo literário
era Tristão de Athayde, examina os fatos do dia, no Brasil e no mundo, com
aquele olhar de Fé que o caracterizou sempre.
A
publicação das “Cartas do Pai” foi o resgate da travessia terrena de uma das
mais dignas figuras da história contemporânea brasileira. Coerente, intrépido,
comprometido com o bem comum, Alceu personificou durante sua vida esse catálogo
de virtudes cívicas através das quais é possível construir uma verdadeira Nação.
Salve
o carteiro, este trabalhador que transforma as cartas em poemas, as folhas de
papel em flores perfumadas, o insípido da vida em alegria transbordante.
João
Baptista Herkenhoff, 77 anos, juiz de Direito aposentado (ES), professor e
escritor.
E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2197242784380520
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pessoa.
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